sexta-feira, 28 de setembro de 2012

FELICIDADE - ALEGRIA

Se felicidade é satisfação de todos os nossos desejos, ela não existe de forma plena. Como um vir a ser, a pessoa humana há de estar sempre em estado de formação. Felicidade requer ‘duração’, alegria pode ser ‘breve’; ser feliz não exige alegria. Inclui, sim, transfiguração pessoal, inserção no todo, paz interior e paz social. Felicidade, mesmo quando real, é sempre inconstante e imperfeita.

Ilusão é projetar uma felicidade sem limitação; sabedoria é ser feliz relativamente. Perigosa é exigir ter tudo sob controle ou vincular a felicidade ao que há de vir. Se temos a experiência da infelicidade, bem sabemos que a podemos superar. Esta é nossa tarefa cotidiana: diminuir a tristeza e aumentar a alegria. Uma coisa é combater ou delimitar o mal, outra é felicidade geral. 


Nas Bem-Aventuranças, Jesus mostra que felicidade é mais que o bem-estar. Tantos ao redor de nós, por não serem bastante felizes, se mostram infelizes. Ninguém, entre nós, tem direito de ser infeliz pelo fato de não ser feliz. É psicologismo narcísico o atual culto do corpo e a pílula do sorrir. Até um horizonte de sofrimento não priva ninguém de ser feliz.


Importante é amar a vida como é: frágil, imperfeita, contingente, desafiante. Em vida feliz contam: o ideal, a luta, a solidariedade, a renúncia, a justiça. Sim, a felicidade é um acréscimo, quem menos a persegue, mais a possui. Até no limitado, incontrolável, finito e mortal há bênção de felicidade. À luz da fé, a bênção é para quem nasce, cresce, erra, casa e adoece.


Todo contentamento dos mortais é limitado, perecível, mortal e ‘divino’. A vida, antes da morte, merece ser vivida incondicionalmente, no amor. Deus a assumiu e, assim, a redimiu - quem o segue é feliz sem mentir. O que conta é se fazer ‘testemunho’ da vida abençoada, até na morte. No domingo da Páscoa, esta é a felicidade: vida vitoriosa na alegria.

FELICIDADE


Felicidade não é plenitude
nem alegria constante;
é passagem com finitude,
temporalidade mutante.

Há transfiguração segura,
porém a desilusão impera.
Só alegre gratidão perdura
se o coração, feliz, espera.

Felicidade, o povo a elogia,
por ser bom um momento.
A duração é sempre fugidia,
passageiro é o sentimento.

Por que ainda me preocupar,
se a vida se faz terapia?
A mim, o dever de serenar,
amigos são minha alegria.

HOMENAGEM AO DEUS EM NÓS


Deus em nós é como cores em um quadro, luzes em um pôr de sol e vibrações em uma música. Por uma experiência de paz, ele é harmonia no coração,  encantamento na alma e regozijo no espírito. Sim, Deus reluz na serenidade de nosso íntimo, no carinho de familiares, na luz do amanhecer, na polifonia de pássaros e na cordialidade de amigos.

O Deus que nos habita nada tem a ver com uma simples projeção, com uma passageira ilusão ou com uma luta aflita a se debater em um vazio existencial. Ele é abraço amigo, superação de angústia, imersão na alegre luta pela vitória do bem. É ainda o impulso persistente que identifica com a verdade, frágil e paradoxal, porém sempre libertadora como essência de relações fraternas.

Deus em nós é dinamismo e serenidade do encontro com nós mesmos; é o sempre tangível e nunca visto, que nos une aos que se aproximam de nós, na tranqüilidade e nas limitações, na satisfação e na angústia em meio a problemas. Porém, no Deus circunscrito, precisamente delineado, executor de tarefas e interventor, não posso crer. Ele é sempre mais e diferente, nunca o executor de uma tarefa, escravo de um dever. Livre é Deus, nas ondas da natureza e do humano ir e vir.

O Deus em nós é espírito e matéria, presente em tudo que possamos imaginar e experimentar. Ele não se limita a realizações ou expectativas nossas nem se impõe qual necessidade. É muito mais: fonte universal e nunca produto, criatividade e nunca isto nem aquilo; é música, nunca um som; é ritmo, nunca imposição; é presença multiforme, nunca objeto-solução.

Deus em nós é o ar que respiramos e que nada e ninguém podem controlar; é a humildade que fascina, mas ninguém domina; é a multiplicidade que harmoniza, ninguém o condiciona; é o vento que passa, ninguém o detém; é a infinita diversidade de seres, não é criador. Deus é ventania que brinca, poeira que dança, porém não é o maestro que, por ordens, rege o coral.

Deus não é severidade que absolutiza o poder, nem é um hierarca que subjuga os seus e tampouco o construtor do edifício de dogmas que petrificam nossa fé. Sim, Deus não é ‘Deus’, mas simplesmente origem, fonte, mistério invisível de tudo que natureza e cultura produzem de valioso. A ele mesmo, ninguém nunca viu, enquanto todos o carregam em si e se beneficiam de sua inesgotável bondade, enquanto sintonizados com o mistério do universo.

Milhões morreram, possibilitando que tu existas, como a folha de árvore que cai para que haja uma nova primavera. Tudo que, entre nós, há de admiravelmente pequeno existe para te apresentar ao mais humilde de todos: o Deus invisível e imortal, o mais frágil e o mais poderoso em amor-ternura.

Se religiões propõem esse Deus à crença das pessoas, elas também se fazem, não raro, sepultura do Deus que é amor, artista, suprema beleza, muito acima de tudo; grandeza inimaginável que só os simples respeitam e os místicos enxergam. Ele é o infinitamente pequeno que nunca deixará de ser procurado pelos humanos.

Sim, o Deus em nós... É o mais irreal do real. Entenda quem quiser! Ele é raio que ilumina e se retira, é pingo que fecunda e desaparece, é o todo que se expande e nada é. Sim, esse Deus é todo ser que se enobrece, não passando de um sopro. Ele é compaixão que torna suportável a vida; é leveza para todos, congregando-os na jocosidade do nascer e acolhendo-os festivamente no morrer. Entenda quem se julgar beneficiado!

Mais que a religião, importante é o riso.
Se tristeza enterra Deus, alegria o ressuscita.
Vulgar é quem não se dispõe a rir, pois reduz o real
 a um peso que esse não tem.
O ensimesmado, o triste e o revoltado
são diplomados em apagar estrelas.
Possamos sentir Deus em um suave
e confiante cantarolar, 
para que saibamos dar o primeiro passo,
 testemunhando, no ir e vir,
o ritmo de nosso caminhar, 
a grandeza que atrai, o amor que encanta.
 Viva o Deus em nós!