Se felicidade é satisfação de todos os nossos desejos, ela
não existe de forma plena. Como um vir a ser, a pessoa humana há de estar sempre em
estado de formação. Felicidade requer ‘duração’, alegria pode ser ‘breve’; ser
feliz não exige alegria. Inclui, sim, transfiguração pessoal, inserção no todo, paz
interior e paz social. Felicidade, mesmo quando real, é sempre inconstante e
imperfeita.
Ilusão é projetar uma felicidade sem limitação; sabedoria é
ser feliz relativamente. Perigosa é exigir ter tudo sob controle ou vincular a
felicidade ao que há de vir. Se temos a experiência da infelicidade, bem sabemos que a
podemos superar. Esta é nossa tarefa cotidiana: diminuir a tristeza e
aumentar a alegria. Uma coisa é combater ou delimitar o mal, outra é felicidade
geral.
Nas Bem-Aventuranças, Jesus mostra que felicidade é mais que
o bem-estar. Tantos ao redor de nós, por não serem bastante felizes, se
mostram infelizes. Ninguém, entre nós, tem direito de ser infeliz pelo fato de
não ser feliz. É psicologismo narcísico o atual culto do corpo e a pílula
do sorrir. Até um horizonte de sofrimento não priva ninguém de ser
feliz.
Importante é amar a vida como é: frágil, imperfeita,
contingente, desafiante. Em vida feliz contam: o ideal, a luta, a solidariedade, a
renúncia, a justiça. Sim, a felicidade é um acréscimo, quem menos a persegue,
mais a possui. Até no limitado, incontrolável, finito e mortal há bênção de
felicidade. À luz da fé, a bênção é para quem nasce, cresce, erra, casa
e adoece.
Todo contentamento dos mortais é limitado, perecível, mortal
e ‘divino’. A vida, antes da morte, merece ser vivida
incondicionalmente, no amor. Deus a assumiu e, assim, a redimiu - quem o segue é feliz
sem mentir. O que conta é se fazer ‘testemunho’ da vida abençoada, até
na morte. No domingo da Páscoa, esta é a felicidade: vida vitoriosa na
alegria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário