segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

B R I S A : DEUS

Segundo um teólogo medieval: Se Deus existe como as coisas existem, ele não existe. Oscar Niemeyer retrucou: Mas que significa isso? Eu respondi:  Deus não é um objeto que pode ser encontrado por ai; se assim fosse,ele seria uma parte no mundo, mas não Deus.
(L. Boff)
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Depois de caminhar quarenta dias e quarenta noites, Elias chegou à montanha de Deus, Horeb. Entrou numa gruta e Iahweh o questionou: Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu: No ardor do zelo por vossa causa fiquei só. Recebeu a ordem: Fique aqui, pois hei de passar à tua frente. Eis que um impetuoso furacão fendia a montanha e quebrava rochedos, mas Deus não estava ali. Depois, houve um terremoto e, nele, Deus também não estava. Depois surgiu um fogo e Deus também não estava ali. No fim, surgiu o murmúrio de uma brisa suave e dali surgiu uma voz: Que fazes aqui, Elias? Vai e retoma teu caminho em direção a Damasco. (1 Reis, 19,8-13)
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Brisa se afirma pelo ‘toque’, atinge-nos por envolver, pacifica por conciliar. Brisa é a origem, da qual todos emanam. Ela é seguro sustento dos viventes. É, sobretudo, abraço a integrar - no amor - justos e pecadores, vivos e falecidos; não julga ninguém nem condena, pois seria desfazer-se de si mesmo.
Brisa é a origem dos seres na ilimitada diversificação em inesgotáveis modalidades de ser e agir. É a pacificação da inquietude que nos agita quando nos tornamos estranhos a nós mesmos e outros nos perturbam ou amarguram.

Brisa é marcada por simplicidade, sem pretensões; sua característica é sobriedade sem recurso a intervenções; identifica-se com os seres pela suavidade do toque; nunca os violenta, respeita-os  incondicionalmente, cada um em seu ritmo e na particularidade de seu dinamismo interior e exterior.
Sim, Brisa nos familiariza com inacabamentos e contradições que nos tornam, às vezes, distantes e até adversos a nós mesmos, opondo-nos também a outros. É a Brisa que nos conscientiza e reconcilia com a realidade. Brisa se faz sorriso em nosso coração e compaixão em nossas atitudes.

Brisa nos faz tocar no Deus em nós; nos surpreende com serenidade e se faz sorriso em nosso rosto, acréscimo em nossas relações. E eis que assumimos o ‘perdão original’. Passamos a fechar feridas, assimilando o que nos sucedeu, deixando de nos amargurar por causa de outros.
Brisa nos faz cuidar de feridas da própria culpa, da nossa ignorância e de nossas perturbadoras limitações. Assim, possibilitamos que Deus se humanize em nós e nos tornemos mediação de sua presença. E eis que paz e alegria se estabelecem em nosso coração.

Situações, fatos e pessoas formam a corrente, pela qual Brisa se manifesta, nos envolve, questiona, beneficia e conduz. Não por um poder todo-poderoso, mas pela fragilidade na mediação que nos faz viver em paz.
Ora, somos qual Jó ou como Jesus, ora como enfermos ou como saudáveis.Quem procura bode expiatório de tudo que sofre, não respeita o mistério da vida com tudo que traz de bem e de mal - de forma incontrolável.

Anda em busca de uma explicação ou justificativa, quem ignora a leveza de Brisa, sempre a serviço da vitória do bem. Envolvida por paradoxos, em situações adversas,  Brisa atua a favor de todos.
Em meio a ondas encapeladas, há experiências estranhas, surpreendentes,  benfazejas ou não, que se revestem de uma estranheza incomum. Parece, então, que cada um desliza de derrotas a vitórias - sopro de Brisa.

Nunca nos encontramos em uma condição de mera culpabilidade. Como em Jesus, é a entrega confiante que nos há de conduzir. Brisa se mostra presença, lenitivo e ternura; traz afeto e compaixão que tanto nos fortalecem.
Nada  mais pacificador e fraterno que o perdão. Nunca se fechar, porém abrir-se, acolher em abraço caloroso. Ao assim proceder, nos mostramos espelho de Brisa-Deus - nosso guia e libertador.

RETRATO

O Papa João Paulo II, numa sala de audiências do Vaticano, recebeu a visita de uma das mais altas autoridades religiosas do Judaísmo, Meir Lau, o Grande Rabino do Estado de Israel. A entrevista se deu num ambiente muito cordial com o seguinte relato: Contou-lhe que, terminada a Segunda Guerra Mundial, uma senhora católica se dirigiu ao pároco da sua aldeia para lhe fazer uma consulta.


Ela e seu marido tinham sob seus cuidados, desde o início da guerra, um menino judeu que lhe havia sido entregue por seus pais, pouco antes de serem enviados para um campo de concentração. Os pais do menino, desaparecidos no inferno trágico do massacre nazista, haviam previsto para aquele menino um futuro nas terras de Israel. A mulher encontrava-se diante de um dilema e pedia ao sacerdote um conselho.  Desejava tornar realidade os sonhos dos pais do menino; porém, ao mesmo tempo, ansiava mantê-lo consigo e batizá-lo.

O pároco deu-lhe uma resposta rápida e segura: - O seu dever é respeitar a vontade dos pais do menino. O menino judeu foi enviado, então, para o recém-fundado Estado de Israel, onde se criou e foi educado. O fato pareceu muito interessante a Karol Wojtila, porém passou a ser realmente comovedor quando o Grande Rabino concluiu:

VOSSA SANTIDADE, ERA ESSE PÁROCO CATÓLICO E O MENINO ÓRFÃO…  ERA EU.

O DEUS DA FÉ NATALINA



No Natal, Jesus mostra um Deus gentil, 
de extremada ternura.
Seu mistério tem algo de mãe, pai – amigo.
É muito mais que rito, tradição e dogma.
Amor - transcende a tudo e nos torna pacificados.

O Deus do Natal é bem mais do que imaginamos;
É sorriso e lágrima, compaixão, alegria e paz;
acima de medo, mérito e culpa, é abraço universal
que nos deixa muito à vontade na simplicidade da fé.

O Deus de Jesus é gratuidade, renovada oferta;
é homenageado por entrega confiante e solidariedade.
É humilde na grandeza e criativo na finitude;
supera sonhos e projetos e nos quer felizes.

Natal o mostra presente no evoluir da criação;
surpresa para si, voz no silêncio, é sempre libertação.
Nunca se limita ao que imaginamos ou queremos;
é maravilhosamente mais - eterna surpresa!

AMOR – DEUS É PURA ALEGRIA
EMOLDURADA POR UMA LÁGRIMA
 DE (E)TERNO AMOR.