Deus em nós é como cores em um quadro,
luzes em um pôr de sol e vibrações em uma música. Por uma experiência de paz,
ele é harmonia no coração, encantamento
na alma e regozijo no espírito. Sim, Deus reluz na serenidade de nosso íntimo,
no carinho de familiares, na luz do amanhecer, na polifonia de pássaros e na
cordialidade de amigos.
O
Deus que nos habita nada tem a ver com uma simples projeção, com uma passageira
ilusão ou com uma luta aflita a se debater em um vazio existencial. Ele é
abraço amigo, superação de angústia, imersão na alegre luta pela vitória do
bem. É ainda o impulso persistente que identifica com a verdade, frágil e
paradoxal, porém sempre libertadora como essência de relações fraternas.
Deus em nós é dinamismo e serenidade do
encontro com nós mesmos; é o sempre tangível e nunca visto, que nos une aos que
se aproximam de nós, na tranqüilidade e nas limitações, na satisfação e na
angústia em meio a problemas. Porém, no Deus circunscrito, precisamente
delineado, executor de tarefas e interventor, não posso crer. Ele é sempre mais
e diferente, nunca o executor de uma tarefa, escravo de um dever. Livre é Deus,
nas ondas da natureza e do humano ir e vir.
O
Deus em nós é espírito e matéria, presente em tudo que possamos imaginar e
experimentar. Ele não se limita a realizações ou expectativas nossas nem se
impõe qual necessidade. É muito mais: fonte universal e nunca produto,
criatividade e nunca isto nem aquilo; é música, nunca um som; é ritmo, nunca imposição;
é presença multiforme, nunca objeto-solução.
Deus em nós é o ar que respiramos e que
nada e ninguém podem controlar; é a humildade que fascina, mas ninguém domina;
é a multiplicidade que harmoniza, ninguém o condiciona; é o vento que passa,
ninguém o detém; é a infinita diversidade de seres, não é criador. Deus é
ventania que brinca, poeira que dança, porém não é o maestro que, por ordens,
rege o coral.
Deus
não é severidade que absolutiza o poder, nem é um hierarca que subjuga os seus
e tampouco o construtor do edifício de dogmas que petrificam nossa fé. Sim,
Deus não é ‘Deus’, mas simplesmente origem, fonte, mistério invisível de tudo
que natureza e cultura produzem de valioso. A ele mesmo, ninguém nunca viu,
enquanto todos o carregam em si e se beneficiam de sua inesgotável bondade,
enquanto sintonizados com o mistério do universo.
Milhões morreram, possibilitando que tu
existas, como a folha de árvore que cai para que haja uma nova primavera. Tudo
que, entre nós, há de admiravelmente pequeno existe para te apresentar ao mais
humilde de todos: o Deus invisível e imortal, o mais frágil e o mais poderoso
em amor-ternura.
Se
religiões propõem esse Deus à crença das pessoas, elas também se fazem, não
raro, sepultura do Deus que é amor, artista, suprema beleza, muito acima de
tudo; grandeza inimaginável que só os simples respeitam e os místicos enxergam.
Ele é o infinitamente pequeno que nunca deixará de ser procurado pelos humanos.
Sim, o Deus em nós... É o mais irreal do
real. Entenda quem quiser! Ele é raio que ilumina e se retira, é pingo que
fecunda e desaparece, é o todo que se expande e nada é. Sim, esse Deus é todo
ser que se enobrece, não passando de um sopro. Ele é compaixão que torna
suportável a vida; é leveza para todos, congregando-os na jocosidade do nascer
e acolhendo-os festivamente no morrer. Entenda quem se julgar beneficiado!
Mais que a religião, importante é o riso.
Se tristeza enterra Deus, alegria o ressuscita.
Vulgar é quem não se dispõe a rir, pois reduz o real
a um peso que esse não tem.
O ensimesmado, o triste e o revoltado
são diplomados em apagar estrelas.
Possamos sentir Deus em um suave
e confiante
cantarolar,
para que saibamos dar o primeiro passo,
testemunhando, no ir e vir,
o ritmo de nosso caminhar,
a grandeza que atrai, o amor que encanta.
Viva o Deus em nós!
O ensimesmado, o triste e o revoltado
são diplomados em apagar estrelas.
e confiante cantarolar,
testemunhando, no ir e vir,
o ritmo de nosso caminhar,
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