JESUS RE-AVALIADO
“Nele,
a plenitude divina está historicamente presente”.
(Col.2,9)
Jesus é o ‘único’, no qual - primogênito da criação, homem
de carne e osso - Deus se fez presente de forma singular. Nele, no todo de seu
ser e existir, ‘Deus’ se revelou, embora Jesus não coincidisse, ‘em tudo’, com
Deus. Nem fugiu da realidade: “O Pai é maior”, e Jesus veio cumprir, de forma singular, sua vontade. A
universalidade de nossa fé em Cristo não há de ser ‘unilateral’ e ‘superior’.
Tampouco, a riqueza, revelada, em e por Jesus, se limita a ele nem se esgotou
nele. Por Deus ser ‘infinito’, não há medida ‘humana’, na qual ele caiba. Consequentemente,
há caminhos diferenciados e convergentes de acesso a Deus e à Salvação.
Podemos falar de um
‘inclusivismo pluralista’, tanto mais que o Espírito sopra onde quer. Aliás,
quanto à ‘letra’, Jesus só inovou a insistência de que Deus é ‘amor’. Encontramos
tanta beleza em outras espiritualidades e filosofias de vida! Jesus veio
confirmar essa riqueza com a ‘unicidade’ de seu testemunho. Quem confere ‘exclusivismo’
à salvação, mediada por Jesus, trai seu testemunho (Atos 10). Nesse caso, se
poderia falar da ‘unicidade’ de Jesus como ‘salvador’ que, por sua vez,
impediria o diálogo inter-religioso nas comunidades de fé. Tal forma de ‘globalização’
impediria o ‘pluralismo’ fraterno com seu ‘diálogo inter-religioso’ e
intercultural entre irmãos, o que costuma acontecer nas comunidades de fé.
Tudo indica o fato –
embora não possamos acentuá-lo demais – de que Deus se revelou, de forma ‘peculiar
e definitiva’ em Jesus. Nem por isso, podemos subestimar ‘outras’ revelações. A
particularidade atribuída a Jesus não pode negar o valor de outras ‘religiões’,
tanto mais que Jesus não é a ‘causa’ da salvação; só Deus o é. Aliás, em todo
ser humano se reflete – de forma menos acentuada - o mistério da ‘encarnação’,
sendo o ser humano ‘capaz de Deus ‘ por natureza e confirmado em sua ‘filiação’
divina. Já se observou – e nos evangelhos há confirmações – que, em Jesus, ser
‘totus Dei’ ( ‘todo’ de Deus) é uma coisa; outra, bem diferente, é ser ‘totum
Deus’ (em ‘tudo’, Deus). Se ‘qualitativamente’
há o ‘divino’ em Jesus, ele não pode competir com Deus
‘quantitativamente’. Aqui, quantidade é também ‘qualidade’. Se Cristo é
‘divino’, nem ‘tudo’ nele é divino
(Totus sed non totum – Tudo, mas não todo). Tudo, pois, que é recebido
se adapta ao recipiente. (Aristóteles) Ora, como ser ‘humano’, Jesus
não é capaz de conter a plenitude divina.
Se, em Jesus, Deus está totalmente presente, sendo Jesus,
como humano, não ‘totalmente’ Deus, o mesmo – gradualmente diferente – vale
para nós. Razão pela qual o ‘divino’ está em tudo e todos e, para servir a
Deus, só nos resta construir relações respeitosas com todos os seres que
pavimentam nosso caminho. Entre as religiões se impõe, incondicionalmente, ‘diálogo
e mútua cooperação’. Porém, de formas variadas: com os ‘judeus’, com ‘profundidade’;
com os ‘islâmicos’, com ‘amplidão’; com religiões orientais, superficial ou
limitadamente; com outras religiões ‘cristãs’,
de forma ‘ampla e profunda’; e entre cristãos católicos, com respeito e
complementariedade.
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